sexta-feira, 28 de maio de 2010

A pequena alma e o sol



Era uma vez, em tempo nenhum, uma



Pequena Alma que disse a Deus:



— Eu sei quem sou!



E Deus disse:



— Que bom! Quem és tu?



E a Pequena Alma gritou:



— Eu sou Luz



E Deus sorriu.



— É isso mesmo! — exclamou Deus. — Tu



és Luz!



A Pequena Alma ficou muito contente,



porque tinha descoberto aquilo que todas as



almas do Reino deveriam descobrir.



— Uauu, isto é mesmo bom! — disse a



Pequena Alma.



Mas, passado pouco tempo, saber quem



era já não lhe chegava. A pequena Alma



sentia-se agitada por dentro, e agora queria



ser quem era. Então foi ter com Deus (o que



não é má ideia para qualquer alma que queira



ser Quem Realmente É) e disse:



— Olá Deus! Agora que sei Quem Sou,



posso sê-lo?



A



PEQUENA



ALMA



E O SOL



3



E Deus disse:



— Quer dizer que queres ser Quem já És?



— Bem, uma coisa é saber Quem Sou, e



outra coisa é sê-lo mesmo. Quero sentir como



é ser a Luz! — respondeu a pequena Alma.



— Mas tu já és Luz — repetiu Deus,



sorrindo outra vez.



— Sim, mas quero senti-lo! — gritou a



Pequena Alma.



— Bem, acho que já era de esperar. Tu



sempre foste aventureira — disse Deus com



uma risada. Depois a sua expressão mudou.



— Há só uma coisa...



O quê? — perguntou a Pequena Alma.



— Bem, não há nada para além da Luz.



Porque eu não criei nada para além daquilo



que tu és; por isso, não vai ser fácil



experimentares-te como Quem És, porque não



há nada que tu não sejas.



— Hã? — disse a Pequena Alma, que já



estava um pouco confusa.



— Pensa assim: tu és como uma vela ao



Sol. Estás lá sem dúvida. Tu e mais milhões,



ziliões de outras velas que constituem o Sol. E



NEALE



DONALD



WALSCH



4



o Sol não seria o Sol sem vocês. “Não seria um



sol sem uma das suas velas... e isso não seria



de todo o Sol, pois não brilharia tanto. E no



entanto, como podes conhecer-te como a Luz



quando estás no meio da Luz — eis a



questão”.



— Bem, tu és Deus. Pensa em alguma



coisa! — disse a Pequena Alma mais



animada.



Deus sorriu novamente.



— Já pensei. Já que não podes ver-te como



a Luz quando estás na Luz, vamos rodear-te



de escuridão — disse Deus.



— O que é a escuridão? perguntou a



Pequena Alma.



— É aquilo que tu não és — replicou Deus.



— Eu vou ter medo do escuro? —



choramingou a Pequena Alma.



— Só se o escolheres. Na verdade não há



nada de que devas ter medo, a não ser que



assim o decidas. Porque estamos a inventar



tudo. Estamos a fingir.



— Ah! — disse a Pequena Alma, sentindose



logo melhor.



A



PEQUENA



ALMA



E O SOL



5



Depois Deus explicou que, para se



experimentar o que quer que seja, tem de



aparecer exactamente o oposto.



— É uma grande dádiva, porque sem ela



não poderíamos saber como nada é — disse



Deus — Não poderíamos conhecer o Quente



sem o Frio, o Alto sem o Baixo, o Rápido sem



o Lento. Não poderíamos conhecer a



Esquerda sem a Direita, o Aqui sem o Ali, o



Agora sem o Depois. E por isso, — continuou



Deus — quando estiveres rodeada de



escuridão, não levantes o punho nem a voz



para amaldiçoar a escuridão.



“Sê antes uma Luz na escuridão, e não



fiques furiosa com ela. Então saberás Quem



Realmente És, e os outros também o saberão.



Deixa que a tua Luz brilhe tanto que todos



saibam como és especial!”



— Então posso deixar que os outros vejam



que sou especial? — perguntou a Pequena



Alma.



— Claro! — Deus riu-se. — Claro que



podes! Mas lembra-te de que “especial” não



quer dizer “melhor”! Todos são especiais, cada



qual à sua maneira! Só que muitos



esqueceram-se disso. Esses apenas vão ver



que podem ser especiais quando tu vires que



podes ser especial!



NEALE



DONALD



WALSCH



6



— Uau — disse a Pequena Alma,



dançando e saltando e rindo e pulando. —



Posso ser tão especial quanto quiser!



— Sim, e podes começar agora mesmo —



disse Deus, também dançando e saltando e



rindo e pulando juntamente com a Pequena



Alma — Que parte de especial é que queres



ser?



— Que parte de especial? — repetiu a



Pequena Alma. — Não estou a perceber.



— Bem, — explicou Deus — ser a Luz é



ser especial, e ser especial tem muitas partes.



É especial ser bondoso. É especial ser



delicado. É especial ser criativo. É especial ser



paciente. Conheces alguma outra maneira de



ser especial?



A Pequena Alma ficou em silêncio por um



momento.



— Conheço imensas maneiras de ser



especial! — exclamou a Pequena Alma — É



especial ser prestável. É especial ser



generoso. É especial ser simpático. É especial



ser atencioso com os outros.



— Sim! — concordou Deus — E tu podes



ser todas essas coisas, ou qualquer parte de



especial que queiras ser, em qualquer



momento. É isso que significa ser a Luz.



A



PEQUENA



ALMA



E O SOL



7



— Eu sei o que quero ser, eu sei o que



quero ser! — proclamou a Pequena Alma com



grande entusiasmo. — Quero ser a parte de



especial chamada “perdão”. Não é ser especial



alguém que perdoa?



— Ah, sim, isso é muito especial,



assegurou Deus à Pequena Alma.



— Está bem. É isso que eu quero ser.



Quero ser alguém que perdoa. Quero



experimentar-me assim — disse a Pequena



Alma.



— Bom, mas há uma coisa que devias



saber — disse Deus.



A Pequena Alma já começava a ficar um



bocadinho impaciente. Parecia haver sempre



alguma complicação.



— O que é? — suspirou a Pequena Alma.



— Não há ninguém a quem perdoar.



— Ninguém? A Pequena Alma nem queria



acreditar no que tinha ouvido.



— Ninguém! — repetiu Deus. Tudo o que



Eu fiz é perfeito. Não há uma única alma em



toda a Criação menos perfeita do que tu. Olha



à tua volta.



NEALE



DONALD



WALSCH



8



Foi então que a Pequena Alma reparou na



multidão que se tinha aproximado. Outras



almas tinham vindo de todos os lados — de



todo o Reino — porque tinham ouvido dizer



que a Pequena Alma estava a ter uma



conversa extraordinária com Deus, e todas



queriam ouvir o que eles estavam a dizer.



Olhando para todas as outras almas ali



reunidas, a Pequena Alma teve de concordar.



Nenhuma parecia menos maravilhosa, ou



menos perfeita do que ela. Eram de tal forma



maravilhosas, e a sua Luz brilhava tanto,



que a Pequena Alma mal podia olhar para



elas.



— Então, perdoar quem? — perguntou



Deus.



— Bem, isto não vai ter piada nenhuma!



— resmungou a Pequena Alma — Eu queria



experimentar-me como Aquela que Perdoa.



Queria saber como é ser essa parte de



especial.



E a Pequena Alma aprendeu o que é



sentir-se triste.



Mas, nesse instante, uma Alma Amiga



destacou-se da multidão e disse:



— Não te preocupes, Pequena Alma, eu



vou ajudar-te — disse a Alma Amiga.



A



PEQUENA



ALMA



E O SOL



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— Vais? — a Pequena Alma animou-se. —



Mas o que é que tu podes fazer?



— Ora, posso dar-te alguém a quem



perdoares!



— Podes?



— Claro! — disse a Alma Amiga



alegremente. — Posso entrar na tua próxima



vida física e fazer qualquer coisa para tu



perdoares.



— Mas porquê? Porque é que farias isso?



— perguntou a Pequena Alma. — Tu, que és



um ser tão absolutamente perfeito! Tu, que



vibras a uma velocidade tão rápida a ponto de



criar uma Luz de tal forma brilhante que mal



posso olhar para ti! O que é que te levaria a



abrandar a tua vibração para uma velocidade



tal que tornasse a tua Luz brilhante numa luz



escura e baça? O que é que te levaria a ti, que



danças sobre as estrelas e te moves pelo Reino



à velocidade do pensamento, a entrar na



minha vida e a tornares-te tão pesada a ponto



de fazeres algo de mal?



— É simples — disse a Alma Amiga. —



Faço-o porque te amo.



A Pequena Alma pareceu surpreendida



com a resposta.



NEALE



DONALD



WALSCH



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— Não fiques tão espantada — disse a



Alma Amiga — tu fizeste o mesmo por mim.



Não te lembras? Ah, nós já dançámos juntas,



tu e eu, muitas vezes. Dançámos ao longo das



eternidades e através de todas as épocas.



Brincámos juntas através de todo o tempo e



em muitos sítios. Só que tu não te lembras. Já



fomos ambas o Todo. Fomos o Alto e o Baixo,



a Esquerda e a Direita. Fomos o Aqui e o Ali,



o Agora e o Depois. Fomos o Masculino e o



Feminino, o Bom e o Mau — fomos ambas a



vítima e o vilão. Encontrámo-nos muitas



vezes, tu e eu; cada uma trazendo à outra a



oportunidade exacta e perfeita para Expressar



e Experimentar Quem Realmente Somos.



— E assim, — a Alma Amiga explicou



mais um bocadinho — eu vou entrar na tua



próxima vida física e ser a “má” desta vez.



Vou fazer alguma coisa terrível, e então tu



podes experimentar-te como Aquela Que



Perdoa.



— Mas o que é que vais fazer que seja



assim tão terrível? — perguntou a Pequena



Alma, um pouco nervosa.



— Oh, havemos de pensar nalguma coisa



— respondeu a Alma Amiga, piscando o olho.



Então a Alma Amiga pareceu ficar séria,



disse numa voz mais calma:



A



PEQUENA



ALMA



E O SOL



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— Mas tens razão acerca de uma coisa,



sabes?



— Sobre o quê? — perguntou a Pequena



Alma.



— Eu vou ter de abrandar a minha



vibração e tornar-me muito pesada para fazer



esta coisa não muito boa. Vou ter de fingir ser



uma coisa muito diferente de mim. E por isso,



só te peço um favor em troca.



— Oh, qualquer coisa, o que tu quiseres!



— exclamou a Pequena Alma, e começou a



dançar e a cantar: — Eu vou poder perdoar,



eu vou poder perdoar!



Então a Pequena Alma viu que a Alma



Amiga estava muito quieta.



— O que é? — perguntou a Pequena Alma.



— O que é que eu posso fazer por ti? És um



anjo por estares disposta a fazer isto por mim!



— Claro que esta Alma Amiga é um anjo!



— interrompeu Deus, — são todas! Lembra-te



sempre: Não te enviei senão anjos.



E então a Pequena Alma quis mais do que



nunca satisfazer o pedido da Alma Amiga.



— O que é que posso fazer por ti? —



perguntou novamente a Pequena Alma.



NEALE



DONALD



WALSCH



12



— No momento em que eu te atacar e



atingir, — respondeu a Alma Amiga — no



momento em que eu te fizer a pior coisa que



possas imaginar, nesse preciso momento...



— Sim? — interrompeu a Pequena Alma



— Sim?



A Alma Amiga ficou ainda mais quieta.



— Lembra-te de Quem Realmente Sou.



— Oh, não me hei-de esquecer! — gritou a



Pequena Alma — Prometo! Lembrar-me-ei



sempre de ti tal como te vejo aqui e agora.



— Que bom, — disse a Alma Amiga —



porque, sabes, eu vou estar a fingir tanto, que



eu própria me vou esquecer. E se tu não te



lembrares de mim tal como eu sou realmente,



eu posso também não me lembrar durante



muito tempo. E se eu me esquecer de Quem



Sou, tu podes esquecer-te de Quem És, e



ficaremos as duas perdidas. Então, vamos



precisar que venha outra alma para nos



lembrar às duas Quem Somos.



— Não vamos, não! — prometeu outra vez



a Pequena Alma. — Eu vou lembrar-me de ti!



E vou agradecer-te por esta dádiva — a



oportunidade que me dás de me experimentar



como Quem Eu Sou.



A



PEQUENA



ALMA



E O SOL



13



E assim o acordo foi feito. E a Pequena



Alma avançou para uma nova vida,



entusiasmada por ser a Luz, que era muito



especial, e entusiasmada por ser aquela parte



especial a que se chama Perdão.



E a Pequena Alma esperou ansiosamente



pela oportunidade de se experimentar como



Perdão, e por agradecer a qualquer outra



alma que o tornasse possível.



E, em todos os momentos dessa nova vida,



sempre que uma nova alma aparecia em cena,



quer essa nova alma trouxesse alegria ou



tristeza — principalmente se trouxesse tristeza



— a Pequena Alma pensava no que Deus lhe



tinha dito.



Lembra-te sempre,



— Deus aqui tinha sorrido —



não te enviei senão anjos.

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